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   me chamo Iara.

 um dia me disseram que era

rainha das águas

     mas sou apenas uma

arquiteta que precisa escrever.

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A vida nem deixa a gente aprender tudo para que continue sempre

em nosso querer

   do hall de entrada

passou à sala de espelhos

 viu-se côncava, 

depois convexa

  quando passou pelo 

espelho quebrado, 

entendeu que

  precisava tirar

  suas máscaras

O problema é que
vida normal
me entedia
             
vida louca
não sustento
           
o mesmo para
pessoas
         

parando aqui
para pensar
se existe uma
terceira alternativa

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UM RETRATO DE MIM

(jan 2018)

 

Essa casa fala de mim, e por mim. 

 

Resume o ser humano no qual me tornei em cinquenta anos que passei rascunhando vida. Relata percepções sobre mim mesma, sobre pessoas, relações e vivências.​ São desabafos, insinuações, provocações,constatações, relatos em forma de poemas, cartas, textos, frases.

       

O amor imenso que sinto pela vida e minha real vontade de continuar vivendo,somados à consciência da minha idade, me impeliram a externar, pela escrita, a fotografia daquilo que hoje chamo de meu renascimento.

           

Aqui eu passo a limpo os momentos que moldaram esse ser que aprendi a aceitar, respeitar, conviver, tolerar e amar. Sobretudo celebra o primeiro ano dos próximos que, penso, serão os melhores da minha vida.

 

Olho para o passado com carinho e algumas mágoas, para meu presente com alegria e ansiedade e para meu futuro com excitamento. Sou uma otimista realista desprovida da tecla “undo”. (Frase editada em 2024 para acrescentar as palavras ansiedade e realista...coisas mudam).

 

A literatura tem sido para mim um processo terapêutico, essencialmente organizador. Ela dá sentido à minha mente, sintetiza meus pensamentos, formata sentimentos, planos, palavras.

 

Enquanto meus escritos eram apenas uma expressão privada, resumiam-se num processo solitário e de autoconhecimento. Ao torna-los públicos, perdi absolutamente o controle sobre meu verbo. Mas a possibilidade de que esse pudesse ter significado e relevância para quem o lesse traria ainda mais sentido para o que escrevo.

 

Entendo a arte como pura expressão do subjetivo, mas percebo-a assumindo um papel, tornando-se potencialmente transformadora para quem se dispõe a observá-la e apreciá-la.

 

É com prazer que te recebo em minha casa e te ofereço meus escritos.

 

Eu os dedico a você, pai, mãe, irmão, filho, filha, família, professor, aluno, chefe e funcionário, amigo e desafeto, marido, amante, pessoa importante, outra nem tanto.

 

Você construiu comigo, mesmo sem saber, meu retrato falado.

CUIDADO ! 

CÃO FEROZ

APARENTEMENTE

MORTO

NA BEIRA

DA ESTRADA.

AQUELES QUE

TENTARAM CHUTAR

SUA CABEÇA

TIVERAM SEUS

CALCANHARES  

MORDIDOS COM

SALIVA INFECTADA!             (nov. 2014)                                  

Meninas usam sapatos vermelhos.

Meninas são curiosas.

 Meninas buscam.

Meninas creem.

Meninas erram.

    Meninas são cheias de vida.

 

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Existem os que se bastam, e os que nunca se bastarão sozinhos. Eu adoro estar sozinha em determinados momentos, mas é como aquela criança que sai pra brincar no tanque de areia, feliz da vida, sozinha, mas volta e meia precisa olhar pro seu "cuidador" e ver que ele está ali de olho. Sentir-me amada é o que me faz ter meus melhores momentos sozinha. Eu nunca serei una, pois que nunca me bastei. E acho pouco provável que isso aconteça. Aos que se bastam, minha admiração! Suponho que isso deva ser algo espiritualmente mais elevado que minha situação absolutamente rasteira.

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Sabe, o passado e o futuro são dois cretinos.
O primeiro se aproveita da nossa memória seletiva   
e o segundo da nossa imaginação fugitiva.
Como o presente pode se sobrepor a dois   oponentes assim? Há que se ter o esforço para viver o presente
por si só! Suicidas estão sempre presos nessa batalha entre os três.

Nunca entenderei o amor

como um incômodo.

Amor pra mim é solução,

é alimento.

Eu vivo para amar.

Então eu o busco, sempre,

e todo dia.

A estrada é minha morada

e o destino são as portas daqueles

que se abrem para o amor.

Reclusos não encontram ninguém,

mas desejam ser achados.

E quando são achados,

se recusam a ter alguém

que os ame de verdade,

simplesmente porque

amar dá muito,

mas muito trabalho.

E quem não quer incômodo 

não deveria sequer falar de amor,

porque esse não foi feito

para quem não deseja perder

noites de sono pelo outro.

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ONDE MORA MINHA VOZ

 

Muitas vezes senti que minha intuição sobre algo se ausentava toda vez que eu tentava entender mais sobre esse algo... Era como se a cada leitura, a cada passo para o conhecimento, mais distante eu ficava daquilo que guiava minhas atitudes até então... Ao ponto de muitas vezes eu me recusar a aprender alguma coisa com receio de não conseguir mais escutar a minha voz interior, minha intuição, a qual sempre identifiquei como minha única e genuína voz. Era como se o que eu aprendesse e lesse, que certamente não era de minha autoria, não me representasse como um indivíduo único...afinal, não era eu, eu. Era o eu após o eu do outro. Andei arremessando alguns livros. A ânsia por aquilo que deve ser, por aquilo que me coloca num local mais digno do que a ignorância, também me trazia o desconforto da falta de identidade. Mas aí me veio à cabeça que o problema não estava na busca pelo conhecimento, mas na forma como eu estava tentando adquiri-lo. Percebi que sempre que a intenção era pretensiosa de sabedoria, eu me perdia. Se o conhecimento fosse adquirido de forma gratuita, despreocupada, ele se somava àquilo que lá dentro chamo de minha voz. E essa vem sem se lembrar de onde busca suas verdades. Acho que é isso.

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NA POLÍTICA,

UMA ZEBRA DO AVESSO

​

Entendendo que o que nos difere dos rebanhos de zebras vem da nossa essência criativa e sobretudo angustiada

- a qual procura pelo pingo no i que nos tornaria um pouco mais especial do que aquele que enxergamos ao lado -  é natural perceber que tudo aquilo que nos limita - ou reprime nossa catarse -

algum dia não nos convencerá mais. 

Assim vejo o comunismo:

a tal pele preta no branco que insistem em nos vestir,

em nos tornar iguais, zebras de um mesmo rebanho.

Algo meio parecido com as religiões que vêm para tornar nossas almas adestradas.

Válidas para um conforto temporário, mas insuficientes para uma vida plena.

Eu não sou uma zebra, ou talvez seja uma zebra do avesso.

Não quero seguir um rebanho.

Posso, no máximo, admitir sua existência.

Se essa explicação não lhe bastar,

procure Ferreira Gullar.

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Sapatilhas vermelhas são fáceis de gostar.

Mas a percepção da beleza

dos pés machucados e desformes,

e o entendimento de que

são esses que sustentam a sapatilha,

bom... isso é para poucos.

É preciso ser muito humano para tal.

E a realidade de ser um humano

anda sendo desprezada.

Alguns preferem fechar seus olhos,

outros em manter distância mesmo.

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SOBRE RELAÇÕES E HOMENS

 

sou uma mulher confusa e com pensamentos bagunçados. Fui educada pela minha mãe a não depender dos homens, então sempre tive dificuldades em aceitar provedores.

 

Mas com o passar do tempo e por mim mesma,

aprendi a aceitar aquilo que por ventura quisessem me dar, não totalmente sem culpa ou vergonha.

 

Entendi tardiamente que adoro ser presenteada,

mas sobrevivi e ainda vivo muito bem sem esses mimos.

 

Também com minha mãe aprendi a valorizar a força do meu trabalho, a costurar e cozinhar o suficiente para matar a fome ou para fazer um agrado.

 

Em meus casamentos aprendi que não sou uma boa coordenadora do lar e nas terapias subsequentes aprendi a ligar o foda-se! Meu sono é mais sagrado do que uma pia brilhando e cheirando a água sanitária!

 

Com meu pai coloquei em minha vida o futebol, o uísque, a lua e a noite, a adoração pelas pessoas, o amor pela arte, a qualidade musical e a apreciação pelo silêncio e pela solidão. Entendi a lição de resiliência e me portei muitas vezes como Phoenix, renascendo das cinzas a cada abate.

 

Com os budistas aprendi que preciso do 5S mais frequente em minha vida, mas comigo mesma entendi que a frequência da faxina sou eu quem determino! 

 

Minha geração assistia a filmes de Walt Disney - que Deus abençoe a todos os seus clones - filmes os quais continuam passando no netflix e insistindo no tal do amor eterno e verdadeiro, aquele mesmo amor que o padre diz que só Deus separa - mas eis que meu mapa astral com sol em Capricórnio vive desmentindo esse padre!

 

Esse mesmo mapa traz minhas loucuras de ascendência sagitariana e minha lua em leão, ou seja,

impossível viver sem os homens!

 

Eu sei que essa confusão toda empolga,

mas também assusta,  fácil de desejar,

mas difícil de assumir ou conviver.

 

Isso vale, em especial, para os homens educados

no nosso meio ainda predominantemente machista,

onde se tem "las mamas"

como as grandes mantenedoras dessa cultura.

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