PÉROLA DE RUBEM
Soprou o pequeno segredo
Verso feito analogia
Ostra triste é poesia
LIVRE ARBÍTRIO
Ofereceu-lhe a tesoura
Hora de cortar as cordas
Livrou-se pelos pulsos
CACOS
Tudo passa
Desatenta
Tem cola?
poesia em espasmos
lampejos
pequenos vagalumes
MÁSCARAS
Olhou-se no espelho
Julgou-se côncava
Fez-se convexa
ÁGUAS FRIAS
O mar levou o bilhete:
Em mãos, ao pescador
Ilha dos cegos n°4
ALÉM DA POESIA?
Não sei falar
Vivo no agora
Diria prazer
MENINOS DO TAÍGETO
ISABELLAS E BERNARDOS
Expurgo
Queda
Silêncio
QUARTO VAZIO
Moviam os dedos
Saiam verbos
Não liam o pranto
MÁQUINA DE VIVER
Passou a limpo o rascunho
Surpresa no fim da página
Não tinha a tecla undo
QUEIMADA
Inspirou o verde-folha
Ardeu cor de espatódea
Expirou em tons de cinza
CARTAS QUE MENTEM
Quedou atordoado
Pagou pelo futuro
Sorriu pelos trocados
OBSERVADOR INCAPAZ
Falava de amor
Foi encontrado
Mostrou-se o ator
HORA ERRADA
Cão desavisado
Beira da estrada
Foi-se o algoz
ÓVULO DO ACASO
Jogou-se pelo corredor
Prendeu-se no escuro
Tocaram-no: amor
ENCONTRO
Cercado por paredes
Via somente recusas
Entraram pela porta
BUSCA
Maomé não se movia
Vestiu-se de montanha
Distraiu-se no caminho
VAGALUME
Carinho inesperado
Instante de luz
Estrela que cai
PHOENIX
Guerra perdida
Jardim sem flor
Asfalto da estrada
NA VARANDA
Som do carro à distância
Lá, vida que vai
Aqui, vazio que fica
OLHOS DE QUEM VÊ
velho sulco na face
espelho, espelho seu
jovem brilho no olhar
MORTO VIVO
Chutaram a cabeça
Calcanhares mordidos
Saliva infectada
NÃO ENCONTRO
A porta estava aberta
Acostumado às recusas
Viu somente paredes
EU, TU, ELE
Passado foi seletivo
Presente só repetição
Futuro? Te dirá a ilusão
PICTOGRAFIA DO PEITO
Mapa aberto
Para o X, vire à esquerda
Ler é preciso
DISFARCE DO ATOR
Arranjo de palavras
Sentido desejado
Aplausos de pé
AUTORRETRATO
Voltou os olhos para si
Grafite espesso na pele de seda
Achou o poema
SOU PÁSSARO FORMOSO
Só me resta um ano de asas
Tartaruga tem cem anos
Ela não pode voar
DUETO DA GENTE
Rimos da piada sem graça
Choro seu pranto
Eternizo você num poema
TÃO SIMPLES
Eu com você
Ele em mim
Nós para todos
CHEIRO DE CASA
Procurou noutro mundo
Viu gentes e línguas
Lembrou do sorriso ao voltar
FESTA DOS OUTROS
Dia de vida comum
Do caminhão pula pra rua
Papel de presente, garrafa vazia
DEZEMBRO
Porta-retratos cedem espaço
Pequenino vê o boneco
O bebê tá pelado?
ALIMENTO DA TOSCANA
Os mármores choraram
Orelha na 48
Abriu a marmita
MÃE, QUERO ÁGUA
Vou buscar seu presente
A filha fingia dormir
Papai Noel não existe
PAREM A MÚSICA
Do começo, por favor
O tempo usava patins
Não achou o tal do freio
CARTA EXTRAVIADA
O pedido foi por correio
Leite e biscoito adormeceram
Pôs o toddy e tomou
VINIL
Só ouvia o lado A
Risco vazio, bateu
Ligou a TV
PENSOU QUE SE BASTAVA
Enguiçou no 4°
Hora forçada
Alguém entrou
PASSA-TEMPO
Deixou cair, cara pintada
Bala no retrovisor
Abriu – corre, moleque
BANCO DA RODA GIGANTE
Silêncio virou palavra
Alegria secou lágrima
Tempo se fez vida
CATAR COQUINHO?
É coisa de educado
Se soubesse como falo
Melhor ficar calado
AH, VÁ ENXUGAR GELO
Taquei chicletes na cruz
Vê lá se tô na esquina
Flanelinha já tá lá
MALDIÇÃO DA TPM
Foi então catar coquinho
Conheceu o tal do inferno
Oops...um raio
MEREÇO
Lá, meu sossego
Aqui, calvário
Coco é pedra sem sapato
TERMÔMETRO
Catar coquinho
Pro inferno
Pro raio que o parta
DESCONFIA
Foje
Eu na esquina
Você no banho
MIMIMI DO POETA
Tá aqui quem quer
Tirando onda?
Sai do meu pé, chulé